Não tenho nenhuma formação em áreas que poderiam desenrolar melhores formas de contar histórias, por isso eu encalho na hora de tornar interessantes aqui neste espaço os temas trazidos à minha mente.
Mas aí me ajudou um pensamento bem simples que vou levar para o futuro: futebol é feito de pessoas. E são as pessoas que tornam o futebol interessante, quaisquer que sejam elas. O importante é como suas histórias são contadas. Grande exemplo disso é a newsletter do Marcos Candido, Desinteressante, em que histórias de pessoas pretensamente desinteressantes prendem nossa atenção.
São as pessoas que estão se fodendo nesse fim de mundo diário e moroso, e são as pessoas que procuram no futebol aquele respiro ligeiro e salvador que se dá fora d’água quando se está prestes a se afogar.
Ontem eu estive em um lugar com muitas pessoas, quase 32 mil para ser mais preciso. Era o Allianz Parque em um dia de final de Campeonato Paulista. Gente pra caramba, cada um com sua história e vivenciando uma história nova. Gente que chegou angustiada, que ficou feliz em vários momentos diferentes e que saiu radiante. “Bebo todas que vier”, como diz a música da torcida, com certeza foi o lema de muita gente. Mas também tinha gente triste, mesmo com a partida sendo de torcida única. Aqui eu repasso a história dos meus amigos que estavam no setor atrás do gol.
Naquele setor, um casal estava à paisana, sem roupas do Palmeiras. O jogo começa e não demora mais do que 1/4 da partida para que o Palmeiras comece a fazer os gols que compuseram o 4x0 final. A torcida do Palmeiras está vivendo um êxtase profundo com a realização da virada do 1x3 do jogo de ida. Mas o casal está imóvel e o disfarce fica cada vez mais difícil.
Ser torcedor infiltrado é uma arte da qual eu não deveria estar falando aqui pra não servir de incentivo. Eu já me infiltrei em estádio rival em final de campeonato, e digo que a coisa não é bagunça. A coisa requer treinamento. Precisa aprender alguns cânticos do rival, xingar o juiz, xingar algum jogador do seu próprio time que você odeia parecendo ser do rival. Se você for desapegado, não vai ser excesso de zelo ir com a camisa da equipe. Fora os nervos de aço que beiram os de um psicopata e o enorme autocontrole de não soltar instintivamente qualquer grito inapropriado. Ou seja, se seu primeiro jogo infiltrado é logo uma final, tem uma chance de dar merda.
Enfim, ali pelo segundo tempo, já está bastante claro para todo mundo no entorno que estamos presenciando um caso de torcedor rival infiltrado. Saiu o gol que praticamente sepultou as chances do São Paulo e o casal vai embora, sob gritos dos torcedores em volta dando aquela merecida aloprada, sem nenhuma violência verbal ou física em parte devido ao resultado do jogo.
O casal foi juvenil demais. E nem quero pensar como o destino poderia ter sido diferente em caso de algum gol do São Paulo, de um resultado diferente, de estarem em um setor diferente do estádio.
O casal pecou demais em GAROTEAR no péssimo disfarce. Mas não dá pra culpar ninguém por cometer a loucura de se infiltrar na torcida adversária. O futebol tem dessas coisas que fazem a gente querer “ir ali e testar um negocinho” e esse negocinho envolver ir vender o carro para ir do outro lado do mundo ver seu time jogar, se infiltrar na torcida adversária numa final de campeonato ou tatuar o rosto de um jogador que fez um gol importante.
No fim, futebol é se entregar a esse fim de mundo diário e ver no que vai dar. O futebol é chaotic evil.