Os sites de aposta se proliferaram no Brasil. De uns tempos pra cá eu deixei uma nota no Google Keep para listar todos os sites de aposta que eu visse por aí, fazendo propaganda na TV, nas camisas dos clubes, nas placas de publicidade e por aí vai. Hoje a lista está em incríveis 54 sites e toda hora tem um novo entrando.
Essa galera encontrou na América Latina uma mina de ouro. Os principais sites são europeus, de onde o hábito de se apostar já é bem mais antigo, desde antes da Internet, quando ainda se faziam apostas presenciais (é por isso que se chamam “casas” de apostas). Por lá, a coisa é regulamentada. Existem diversas premissas que as empresas precisam cumprir, além de pagar impostos como uma empresa qualquer.
Com uma maior estrutura, esses sites europeus foram os primeiros a se popularizar por aqui quando a febre começou a atravessar o oceano. Ainda era um negócio de nicho, quem apostava se via como um transgressor.
A diferença é que no Brasil e na maioria da América Latina, a coisa até hoje não é regulamentada. Os sites de aposta entram numa zona cinzenta da lei, em que não existe nada dizendo se eles são permitidos ou proibidos. Como os bingos são proibidos e são a coisa mais próxima das apostas esportivas, essa foi a premissa inicial. Então para ter operação no Brasil, todos esses zilhões de sites são oficialmente sediados em paraísos fiscais ou países onde a coisa é regulamentada.
A partir daí, aos poucos esse mercado foi testando para ver até onde ia dar. No começo, nenhum site se divulgava como um site de aposta e alguns até hoje evitam falar diretamente que o são. Nesses casos, o endereço divulgado nas propagandas leva para um site fajuto de jogos gratuitos.
Com os anos se passando e com os governos ainda longe de enxergar a magnitude que isso tomou, virou festa. Sites de aposta surgem do bueiro na rua e as divulgações já acontecem de forma direta sem nenhum pudor. O que é um perigo danado, porque a falta de regulamentação traz diversas possibilidades de fraudes, golpes e zero responsabilidade fiscal, além de não haver necessidade de se tomar medidas preventivas contra o vício e a manipulação de resultados.
Esse mercado se adaptou e encontrou na América Latina uma realidade diferente. Enquanto na Europa eles se anunciam com benefícios técnicos (como melhores cotações) e até alertando o usuário em relação a apostar de forma responsável, aqui a coisa ainda é tardiamente focada na introdução ao hábito de se apostar e na “emoção”, essa coisa tão latina.
E eu coloquei aquele “tardiamente” ali porque com a falta de regulamentação, não existem levantamentos sobre o uso desses sites por aqui. Com isso, todo novo site que surge acredita que ainda não existe esse hábito e busca trazer essa grande “novidade” que é apostar. E nessa zona cinzenta, não podemos garantir que eles estão errados, mas sendo um apostador e acompanhando a evolução disso no Brasil com as poucas evidências que encontro, acredito fortemente que já exista um império dessas empresas instalado aqui.
Sites de aposta já tem cotas de patrocínio da transmissão de todos os grandes campeonatos na TV, estampam as camisas de praticamente todos os clubes e ocuparam os lugares das placas de publicidade que antes eram de cervejas e carros. Definitivamente não existe mais o senso de apostar ser algo proibido que havia anos atrás.
E o fim do mundo dessa história toda não são as apostas, eu mesmo faço minhas fézinhas, o problema é que há muitos anos essas empresas têm obtido sucesso tendo apenas o bônus e sem arcar com o ônus, que é adotar posturas de se incentivar o jogo responsável e trabalhar de acordo com regras. E as regras não existem.