FFM #29: Todo dia um novo site de apostas
+ o empresário que faliu um clube de 120 anos + a perda de uma das Mães da Plaza de Mayo + o The Office do futebol brasileiro dos anos 90 + a droguinha da moda dos jogadores ingleses
Olá!
O recadinho antes da edição de hoje é apenas um:
O Substack, plataforma que hospeda a newsletter, cometeu uma sacanagem: dependendo de por onde você busca assinar a newsletter, a opção de seguir o autor da news aparece muito mais em destaque, ao invés de assinar a newsletter em si. O “seguir” funciona como uma rede social, em que você acompanha o autor em tudo o que ele fizer pelo Substack, incluindo as notas e os outros recursos que ele tem lançado em busca de se tornar, veja só, uma rede social. Porém, não existe a garantia de que a FFM vai se manter no Substack para sempre, pois os novos recursos lançados recentemente tem algoritmizado a nossa relação com newsletters e isso é desanimador, além de a plataforma dar palco para neonazistas. Então se você chegou recentemente por aqui, veja se está assinando a newsletter ou se está apenas me seguindo na plataforma.
Eu devo ter o maior acervo de sites de aposta do Brasil
Não lembro quando comecei. Tenho a memória de ter sido no dia das eleições de 2022, mas ela pode ser falsa. Fato é que já deve fazer dois anos que eu tive a estúpida ideia de anotar numa lista todos os sites de apostas que eu já tive contato. Não tinha nenhum motivo específico, é só porque naquela época começaram a explodir sites do tipo, fruto da então inexistente regulamentação desse mercado no Brasil.
Após essa primeira leva de lembranças, a lista começou com cerca de 30 sites. Eis que hoje, no momento em que escrevo esta newsletter (quando você estiver lendo, a lista possivelmente já vai estar maior de novo), são 163 sites. Isso mesmo. Deixa eu digitar em maiúsculo e por extenso para dar mais dramaticidade: CENTO E SESSENTA E TRÊS sites de aposta apenas no Brasil. Contando somente os que anotei. Uma parcela bem pequena deles já encerrou as operações, a grande maioria segue por aí.
No dia em que estou escrevendo isso aqui, eu voltava do trabalho e tinha um trem inteiro da CPTM envelopado com a propaganda de uma casa de apostas. O garoto propaganda dela era o RODRIGO FARO (!), pois todos os ex-jogadores minimamente conhecidos já se conveniaram com algum desses sites. No anúncio, o site dizia ser “eleita a bet que mais cresce no Brasil” ou algo do tipo. Mesmo que eu, que conhecia 162 sites de apostas, sequer a conhecesse. Aí abri a notinha do Google Keep para incluir mais um item.
Esse mercado me pegou no pulo no ano passado. Quando o Michel Temer assinou, em 2018, a liberação dos sites de apostas no Brasil e deixou a regulamentação para depois, não era surpresa que a cada pum dado por um habitante brasileiro surgia uma nova bet.
Imagine você, que não é muito versado nas apostas, que exista um jogo com 50% de chance para vitória de um time, e 50% de chance de ele não vencer (empate ou vitória do outro time). Nas casas de apostas, a primeira possibilidade te paga cerca de R$ 1,90 para cada real apostado. Na segunda, também. Ou seja, para cada real que você ganha, eles abocanham 10 centavos. Agora multiplique isso por imensas quantidades de dinheiro colocadas nesses sites por apostadores viciados e sem nenhum suporte psicológico (pois lembre-se, não havia regulamentação e os sites não precisavam fazer nada sobre isso). Está aí a galinha dos ovos de ouro.
Aí em 2023 o Haddad finalmente regulamentou o negócio. Foi ali que eu pensei que a minha lista ia parar por ali mesmo. Entre amigos, os palpites eram que apenas cerca de 30% daqueles sites da lista iam sobreviver. Não foi bem assim. Na verdade, piorou.
O que aconteceu é que tinha muita gente esperando a regulamentação para entrar no ramo. Queriam ver se ela não seria muito rígida. E ela não parece ter sido. Começou aí um mar de rosas para essa galera. E muito do que eu falei aqui é baseado em achismo, porque não sou jornalista, e quem é não está indo muito atrás, tirando umas raríssimas matérias denunciando estranhezas em algumas casas específicas, especialmente as que patrocinam grandes clubes brasileiros.
Com essa extrema saturação de sites de apostas, cada iniciativa de conteúdo com uma mínima relevância já tem patrocínio de uma casa diferente. E ninguém quer se indispor com elas, por isso a falta de investigação. Para falar bem a verdade, a possibilidade mais próxima de um dia esta newsletter ter um patrocinador ou um publi ou um patrocínio vem daí. Talvez este seja o único benefício desse excesso de sites: em busca de exclusividade, elas estão colocando dinheiro em produtores de conteúdo que nem sonhavam com isso. Um amigo, dono de uma página de basquete no Instagram com 10 mil seguidores (a menor quantidade no intervalo para ser considerado um microinfluenciador), já recebeu duas propostas.
Depois de muito pensar e em desistir de fazer alguma coisa mais inteligente com essa lista (tipo tentar vender para jornalistas ou sites especializados), eu resolvi que vou criar um Twitter chamado “Todo dia um site de apostas”, falando de um por um dos 163 sites de aposta da lista, além dos novos que forem chegando. Pelo menos vou transformar a falta do que fazer em entretenimento alheio.
Um empresário comprou um clube de 120 anos e faliu ele
Aconteceu na Bélgica, mais precisamente no Oostende, um clube médio que rodava entre a primeira e a segunda divisões e tem/tinha 120 anos. O nome do energúmeno é Paul Conway, empresário que é dono de vários outros clubes pela Europa. Sem poder honrar com os compromissos financeiros para a próxima temporada, o time vai fechar as portas ou, na melhor e improvável hipótese, ser refundado e ter que recomeçar o caminho nas divisões inferiores. Já o cara que havia comprado o clube tratou tudo como um investimento que, ops, deu errado, vida que segue.
Perdemos Nora, mãe da Plaza de Mayo e lutadora pelos direitos do futebol feminino
Nora Cortiñas foi uma das mais vocais ativistas das Mães da Praça de Maio, grupo de mães que até hoje aguarda pelo retorno de seus filhos desaparecidos na ditadura argentina dos anos 70 e 80. Depois de muitas lutas, ela faleceu aos 94 anos na semana passada, deixando um legado tão grande que tem até clube de futebol feminino com o nome dela. Sejamos todos hinchas del Norita.
Simplesmente uma faixa escrita “Juntos contra o nazismo” num amistoso entre Brasil x Alemanha, no Beira-Rio, em 1992. O futebol brasileiro dos anos 90 foi uma gigantesca gravação de The Office.
Flagra do Andrey Raychtock.
Os Zé Droguinha do futebol inglês
Eu nunca tinha ouvido falar em snus até ler que 1 a cada 5 jogadores profissionais da Inglaterra estão viciados nesse negócio. O snus é um produto feito de tabaco, consumido em forma de saquinhos colocados entre a gengiva e o lábio superior, de forma que haja liberação de nicotina, desencadeando os efeitos psicológicos do já conhecido cigarro, com o “benefício” (haja aspas hein) de não produzir fumaça. Os dados que mostram o espalhamento silencioso desse produto foram revelados por uma pesquisa de uma associação de jogadores profissionais da Inglaterra e são detalhados nesta matéria do Athletic. Uma reportagem do GE também fala bem sobre o tema, incluindo alguns flagras de jogadores consumindo o negócio no banco de reservas durante as partidas.
Excelente