Quando Bob Marley se infiltrou na seleção brasileira (de músicos)
Parece que o filme do Bob Marley é bem ruim. Ele recebeu 41% na avaliação do Rotten Tomatoes, por exemplo. No IMDB está em 6,5 de 10. Para efeito de comparação, olhei o primeiro filme horroroso que me veio à cabeça (Cilada.com) e a nota dele é 5,2. Não está tão longe. E eu entendi o apelo de lançá-lo em fevereiro, que é quando o Bob faria aniversário. O problema é que vários filmes do Oscar estão no cinema também, o que só facilita a comparação injusta.
Mas aqui no FFM não temos pauta perdida, e pelo menos a campanha de divulgação do lançamento do filme serviu para eu ser apresentado à paixão do mestre do Reggae pelo futebol, mais especificamente pelo futebol brasileiro. Tendo vivido o auge da sua carreira em meio ao futebol encantador que a seleção levou ao mundo na Copa de 70, não poderia ser diferente.
A passagem mais legal de Bob Marley relacionada ao nosso futebol foi quando ele veio para o Brasil. Ele veio fazer um show? Não. Ele veio gravar um feat. com o Gilberto Gil? Também não. Ele veio bater uma bola. No meu coração, pelo menos, foi isso. Não foi porque ele veio participar do lançamento da gravadora dele no Brasil não.
O futebol brasileiro sempre esteve no coração de Bob Marley. Em uma de suas fotos mais icônicas, ele está com a camisa do Brasil. Logo quando ele chegou aqui, lembrou do poder que o futebol brasileiro tinha de encantar o mundo: "A Jamaica gosta de futebol por causa do Brasil".
Bob queria respirar futebol. No dia seguinte da chegada, conheceu Pelé e ganhou do Rei uma camisa do Santos, time de coração dele no Brasil. Isso mesmo. Além de times na Jamaica, na Escócia e na Inglaterra, Bob Marley tinha um time do coração no Brasil. Afinal, "O futebol fazia tanto parte da vida de Bob Marley quanto a música", nas palavras de Gerald Hausman, biógrafo de Bob Marley.
Aí chegou o dia da pelada. E a seleção de músicos ali seria digna de uma sequência daquele documentário “A Noite que Mudou o Pop” que foi lançado agora também. Estamos falando de Chico Buarque, Toquinho, Moraes Moreira, Alceu Valença e, claro, Bob Marley, a contratação internacional da equipe de craques. Evandro Mesquita ainda apareceu depois e entrou “no segundo tempo”.
Ninguém era bom. A partida durou 20 minutos porque o físico da galera não estava em dia e já estavam todos pedindo arrego. Mas a história da música brasileira entrelaçada ao futebol já estava escrita. Bob Marley passou mais uns dias e já voltou para casa querendo estar aqui de novo para tocar em um festival de reggae no Brasil. Mas o câncer não permitiu, e o craque do reggae nos deixou com apenas 36 anos, um ano depois do encontro com os craques da música brasileira.
A BBC Brasil conta a história em detalhes e a Trivela dá uma dimensão maior da paixão de Bob Marley pelo futebol brasileiro.
Costa do Marfim na CAN: demissão de técnico na primeira fase, classificação sofrida e… título
Terminaram as copas regionais de seleções das quais falamos há algumas edições. Na Copa Asiática, o Catar era considerado zebra mesmo com o título da edição anterior, e aí eles foram lá e ganharam de novo. Mesmo disputando a competição em casa, o desempenho na Copa do Mundo de 2022 não tinha sido animador para os catarianos na comparação com outras equipes do continente. A final foi com uma outra surpresa bem interessante: a Jordânia, que além de ser a 70ª no ranking da FIFA, tem em sua redondeza um massacre em andamento.
Mas a história mais maluca ficou para a Copa Africana de Nações. A competição teve como campeã a Costa do Marfim, dona da casa. Esse foi um plot twist gigantesco, porque antes de chegar até lá eles tiveram uma primeira fase conturbada: levaram 4x0 de Guiné Equatorial na última rodada e terminaram o grupo A com só 3 pontos. A paciência da federação acabou ali mesmo e no dia seguinte demitiram o técnico Jean-Louis Gasset. O “problema” é que a primeira fase ainda não tinha acabado e a Costa do Marfim ainda tinha chances de se classificar como um dos melhores terceiros colocados. E foi o que aconteceu, justo na última posição dessas vagas.
Com um técnico interino, o ex-jogador Emerse Faé, os marfinenses renasceram: eliminaram nas oitavas de final Senegal, a seleção campeã da edição anterior da CAN. Depois passaram por Mali na prorrogação e garantiram vaga na final com um 1x0 sobre a República Democrática do Congo.
Na final, veio outra provação: enfrentaram a Nigéria, um dos times mais fortes e consistentes do continente e que tem no time diversos jogadores de destaque no futebol europeu. Para aumentar o drama, levaram o primeiro gol ainda no primeiro tempo. Mas no segundo tempo a torcida marfinense, que entupiu o estádio, empurrou o time para conseguir a virada, deixando a taça dentro do próprio país. O último gol foi de Haller, que já venceu um câncer.
Milhares de pessoas acompanharam o carro aberto da equipe rumo ao estádio onde aconteceria a festa do título. Apesar de momentos de tensão com gás de pimenta e pessoas feridas em desentendimentos com a polícia, vale ver as cenas desse recebimento proporcionado pelos marfinenses para termos uma noção da representatividade do futebol para a população local.
O Ponta de Lança, maior referência em futebol africano no Brasil, conta em matéria n’O Globo outras histórias desta edição da CAN, incluindo a bela participação das seleções lusófonas.
O Desejo Final
“O que você faria se soubesse exatamente quando vai morrer?” é uma pergunta que desperta nossa imaginação. É uma versão bem mais dramática daquela “o que você faria se ganhasse na Mega da Virada?” que permeia 11 em cada 10 almoços corporativos na época do final do ano. Na Colômbia, essa pergunta tem uma proximidade maior com a realidade, já que lá a eutanásia é permitida desde 2022. Ela, junto com Cuba, que legalizou o suicídio assistido há um mês, são os únicos países da América Latina com esse status.
Sebastián Pamplona, torcedor fanático do Independiente Medellín, é portador de uma doença terminal, da qual não se sabe de mais detalhes, e tomou a decisão de encerrar a própria vida por meio da eutanásia. Mas ele não faria isso sem antes se despedir do clube do coração.
Sebastián foi até o estádio Atanasio Girardot e registrou (na memória, pois a essa hora fotos não são mais suficientes) cada setor do estádio, cada ângulo pelo qual viu os jogos durante a vida. Recebeu homenagens de torcedores e muito carinho dos jogadores do time. Um ato de justiça para quem poderia estar em qualquer outro lugar antes de morrer, mas escolheu estar ali.
No jogo em si, Independiente Medellín e Santa Fé empataram em 1x1. Yairo Moreno abriu o placar para os donos da casa e Julián Millán igualou para os visitantes. A crueza do futebol não permite contos de fadas, e é por isso que o último jogo de Sebastián não foi uma vitória de seu time, e o último gol que passou pelas suas retinas foi do adversário.